quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Impostos, uma surpresa a mais na turbulência

Na hora de rever as aplicações e sacar o dinheiro, investidores devem levar em conta desconto de tributos
Bruno Rosa
Muitos investidores têm sacado suas aplicações nos bancos com a instabilidade no mercado financeiro. Das modalidades mais conservadoras às mais agressivas, o movimento ganha força desde setembro, quando a crise se agravou. Porém, nem todos levam em conta os impostos e as tarifas cobrados na hora do resgate. Resultado: a surpresa, nada agradável, que pode comprometer quase todo o ganho. Especialistas ressaltam que é preciso calcular o peso das taxas de administração, do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), já que, muitas vezes, não compensa nem mexer na carteira.
Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), a captação líquida negativa (quando os saques superam os depósitos) dos fundos de renda fixa, DI, multimercados e ações foi de R$100 bilhões entre janeiro e o dia 15 de novembro. Porém, para cada investimento, é preciso atenção específica. Na poupança, modalidade mais utilizada no país, o cliente deve ficar atento à data de aniversário da aplicação.
- A poupança é uma aplicação sem tributação. O ganho é baixo, rende 0,5% ao mês mais Taxa Referencial (TR), de 0,2% mensal. Se a aplicação vence todo dia 16, por exemplo, e o cliente sacar um dia antes, não ganha nada. Tem que respeitar o aniversário da caderneta. Além disso, se a data cair em um feriado ou fim de semana, o ganho só é registrado no primeiro dia útil seguinte - explica Nelson de Sousa, do Ibmec-RJ.
Já Myrian Lund, professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que os fundos de investimento merecem atenção redobrada. Ela explica que aplicações como renda fixa, DI, multimercados e Certificados de Depósito Bancário (CDBs) devem ser feitas visando ao longo prazo, já que saques antes da hora podem "comer" até 96% dos ganhos mensais.
Alíquota de IR para fundo de curto prazo é maior
Myrian se refere ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) regressivo - cobrado no caso de resgates em aplicações com menos de 30 dias. Se o saque em um fundo for feito após um dia de aplicação, o imposto leva 96% do ganho.
- Isso foi feito pelo governo para estimular a poupança de longo prazo. O ideal é dar prioridade às aplicações por períodos acima de dois anos. Antes de se fazer o saque é preciso ter certeza da urgência do dinheiro, pois o ganho vai ser pequeno - ressalta Myrian.
Os fundos ainda pagam IR. Por isso, é preciso atenção para a escolha do tipo de fundo. Os de curto prazo só sofrem incidência de duas alíquotas: de 22,5% se o saque for feito em até seis meses e de 20% para os resgates após 180 dias. Já as aplicações de longo prazo têm quatro alíquotas de IR. A menor é de 15%, paga sobre o ganho para as retiradas após 720 dias de aplicação.
- É importante ter atenção a esse detalhe. Muitos gerentes de bancos oferecem os fundos de curto prazo porque sofrem menos com a volatilidade do mercado. Por outro lado, o IR é maior - lembra Myrian.
Fábio Colombo, administrador de recursos, explica que o cliente precisa avaliar o melhor momento de fazer o saque, já que ainda há a taxa de administração do fundo, que consome boa parte do rendimento. Por isso, continua ele, antes de investir, o aplicador deve perguntar ao gestor qual é o custo de uma eventual saída:
- Planejamento é essencial, pois a retirada acontece quando a aplicação é feita de modo errado. O investidor deve sempre perguntar: Quanto vocês vão me pagar se eu sacar amanhã? Se a resposta do gestor for que depende das condições de mercado, o cuidado deve ser redobrado, pois os ganhos tendem a ser menores. A taxa de administração é cobrada ao longo da aplicação.
O investidor deve saber que não há incidência de IR ao resgatar as ações que tenham registrado perdas. Por isso, dizem os analistas, os prejuízos podem ser registrados para o abatimento em ganhos nos anos futuros. No caso de o investidor ter comprado ações diretamente, deve mencionar a perda na declaração de IR, na coluna Ganho de Capital. Nos anos seguintes, se as aplicações tiverem registrado ganho, a perda pode ser deduzida. No caso de um fundo de ações, a perda pode ser compensada ao entrar em um outro fundo do mesmo administrador que registre ganhos no futuro.
- Quem está perdendo agora não vai pagar IR. A perda será descontada no futuro, amenizando o peso do fisco sobre a aplicação - diz Myrian.
Para Eduardo Freire, diretor comercial da NetOfficer, é preciso pensar duas vezes antes de fazer o saque porque os ganhos ficam comprometidos.
- Sempre levo em conta as tarifas e os impostos. Nesse momento de oscilação, é preciso muita atenção. Acho que as cobranças deveriam ser reduzidas para estimular as aplicações. Fonte: O Globo

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