VITOR STANKEVICIUS
Sabedores do aumento expressivo de arrecadação ocorrida em 2008 pela ação impetuosa dos entes tributantes, que cobram numa capacidade altamente voraz os débitos de seus combalidos contribuintes, recebemos a notícia do ressurgimento da CPMF, batizada agora de CSS (Contribuição Social para a Saúde), à alíquota de 0,10% a fim de fazer frente aos ditames da Emenda Constitucional nº 29 (que vincula 10% da receita bruta da União aos gastos com saúde).
Pergunta óbvia: os novos recursos surgidos, até o mês de abril de 2008, de cerca de R$ 34 bilhões advindos das melhores condições produzidas por uma conjuntura macroeconômica, se já tão superiores à necessidade proclamada pela citada Emenda, porque se pensar novamente em uma nova contribuição?
Na contramão e a contratempo, neste momento de necessária cautela, diante de um novo aumento da taxa básica de juros, podendo provocar verdadeiro estrangulamento do crédito, do consumo e da produção, vimos reaberta esta discussão, da qual convenhamos, o bom senso não deverá prevalecer.
Este Governo arrisca-se profundamente, no sentido de que tal aumento dos juros, junto a mais um imposto, pode provocar efeitos colaterais indigestos e impiedosos em nossa economia, hoje navegando em mares calmos.
A carga tributária no País aproxima-se, a passos largos, de 38% de nosso PIB - Produto Interno Bruto, normalmente apresentado em 12 meses, resultando em 4,5 meses. Comemoramos, no último dia 27 de maio, o nosso Tax Freedom Day, quando damo-nos por livres ou quites com os governos federal, estadual e municipal nossas dívidas tributárias. Na década de 70 eram precisos, “apenas” 76 dias. À época, do imperador Augusto (63 a.C. — 19 d.C.), dois dias bastavam.
Estamos prestes a incorporar, novamente, a velha e temível CPMF que nos fará, sem hesitação, comemorar o Tax Freedom Day em data ainda mais adiante do ano de 2009.
Observe que, nos últimos 18 anos, segundo levantamentos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o crescimento anual médio da carga tributária foi de 0,98%. Conservadoramente, apostando em crescimento anual de 0,79% de 2008 a 2020, dada uma expectativa de 72 anos e quatro meses de vida a um brasileiro, este deverá entregar 36,3 anos para este fim. Sem tal progressividade futura, o brasileiro trabalhará, ainda assim, quase 30 anos para o governo.
Não menos interessantes, e tão impressionantes quanto, são os estudos do consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga, que, embasado em dados oficiais do IBGE — em pesquisa mensal de emprego de seis regiões metropolitanas do país — e estatísticas do Banco Central do Brasil, divulga: o brasileiro precisa, em média, de 9,5 meses para quitar ou saldar suas dívidas com empréstimos ou financiamentos. Em 2004, esta conta era inferior a seis meses.
A expansão do crédito ao consumidor, nitidamente relacionada com as melhores condições macroeconômicas estabelecidas, patrocinou, sobremaneira, este novo patamar de comprometimento da renda.
Somados os resultados teremos: 4,5 meses (para pagar tributos) mais 9,5 meses (para pagar dívidas com empréstimos ou financiamentos). Resultado: 14 meses.
Se você é assalariado — regime CLT — e recebe 12 salários por ano, mais seu 13º salário, saiba que precisará, portanto, dos 12 meses de um ano civil mais um mês do ano seguinte apenas para pagar tributos e dívidas assumidas.
Não podemos esquecer, também, das férias normalmente recebidas a cada ano trabalhado. Porém, as organizações em geral concedem 30 dias de férias, momento em que, ao invés do pagamento do salário do mês em descanso, remuneram o valor das férias (um salário mais 1/3 constitucional), o que nos remete, novamente, ao mesmo número até então percebido.
Como tratamos aqui, entre outros, da capacidade incontroversa deste governo e seus congressistas de criar, e quem sabe, capacitados estarão para, ao não reconhecer o cálculo acima e sua gravidade, propor, em Plenário, a possibilidade de esticarmos o ano civil brasileiro de 12 meses para novos 14 meses, fazendo, assim, esta conta fechar.
Aos governantes recomendamos a volta aos bancos acadêmicos para reaprender lições esquecidas (ou jamais estudadas), ou um bom estágio em empresas de qualquer porte, onde as sobras do caixa devem ser respeitadas e utilizadas com maior rigor e critério.
Estamos prestes a incorporar, novamente, a velha e temível CPMF que nos fará, sem hesitação, comemorar o Tax Freedom Day em data ainda mais adiante do ano de 2009.
Vitor Stankevicius é administrador de empresas, contador, perito, auditor e professor universitário, membro da Apejesp-Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paul e consultor tributário-fiscal do Simpi-Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo.
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